Teatro do Campo Alegre, 3 a 5 de Março.
Não sei quanto a este espectáculo, mas o Tochas ao vivo é de chorar a rir :)
Lisboa, hoje. Um quarto de uma casa na Rua dos Douradores. Um homem inventa sonhos e estabelece teorias sobre eles. A própria matéria dos sonhos torna-se fídica, palpável, visível. O próprio texto torna-se matéria na sua sonoridade musical. E, diante dos nossos olhos, essa música sentida nos ouvidos, no cérebro e no coração, espalha-se pela rua onde vive, pela cidade que ele ama acima de tudo e pelo mundo inteiro. Filme desassossegado sobre fragmentos de um livro infinito e armadilhado, de uma fulgurância quase demente, mas de genial claridade. O momento solar de criação de Fernando Pessoa. A solidão absoluta e perfeita do Eu, sideral e sem remédio. Deus sou Eu!, também escreveu Bernardo Soares.
Inspirado n' O Livro do Desassossego, de Bernardo Soares, exige uma reflexão que dificilmente o cansaço de quinta-feira à noite nos proporcionará.
Ficou, pelo menos, a curiosidade de pegar no livro e ler alguns dos seus magníficos fragmentos.
Um filme que, nas palavras do realizador, não se coaduna com shoppings, pipocas e coca-cola.
Em digressão pelo país.*
* Para mais informações sobre a digressão, consultar este site
O Teatro Meridional avista Portugal do alto de um promontório, o ano de 1974, ponto a partir do qual é possível, entre continuidades e rupturas, esboçar um antes e um depois na nossa história contemporânea. O Estado Novo, o 25 de Abril, a integração europeia e a “normalidade democrática” – matéria exposta para indagar, de uma forma mais evocativa do que ilustrativa, essa abstracção que leva o nome de “identidade portuguesa”. E como vem sendo habitual no trabalho deste colectivo (recordemos Para Além do Tejo e Por Detrás dos Montes), essa indagação faz-se por via de uma contida e expressiva rede de gestos e músicas, que quase prescinde da palavra para comunicar. Onze actores contam então com o corpo o tempo e o modo deste país eternamente adiado, levantando pequenas fábulas sobre a “efemeridade da utopia”, para pegarmos nas palavras do encenador Miguel Seabra, esse superlativo orquestrador de sentidos.