segunda-feira, 28 de março de 2011
O gato da piela
O físico teórico austríaco Erwin Schrödinger apresentou em 1935, na revista alemã Naturwissenschaften ("Ciências Naturais"), o seu teorema do gato, teorema esse que eu considero aplicável, na sua plenitude, ao consumo de álcool.
A experiência consistia no seguinte:
Um gato é preso dentro de uma câmara de aço.
Dentro dessa caixa encontra-se um contador geiger, com o qual o gato não pode interferir, e que contacta com uma pequena quantidade de substância radioactiva.
No espaço de uma hora, um dos átomos pode decair mas, com a mesma probabilidade, pode nenhum deles decair.
Se decair, liberta-se um martelo que quebra um pequeno frasco de ácido cianídrico e o gato morre. Enquanto isso não acontecer, o gato vive.
Em cada hora o gato tem 50% de hipóteses de se safar.
Para quem está no exterior da caixa, é impossível afirmar, sem a abrir, que o gato está morto ou que está vivo.
O que a mecânica quântica afirma é que, se ninguém olhar para o interior da caixa, o gato encontrar-se-á numa sobreposição dos dois estados possíveis: vivo e morto.
Só se supera essa dúvida com uma medida: a abertura da caixa.
O que pareceu absurdo a Albert Einstein, faz todo o sentido para mim, quando aplicado à bebedeira. Senão vejamos:
Imaginem que vão numa segunda-feira à noite à Ribeira. Toda a gente sabe que nessa noite, pela conta certa de 5 euros, vos facilitam dois baldes de meio litro de vodka manhosa capaz de vos por de rastos.
Agora imaginem que são 2 da manhã e acabaram de mamar o terceiro balde.
‘Tou on fire!, pensam vocês. Não pensamos sempre?
Pois bem, a substância perigosa já está no organismo.
O gato somos nós, obviamente.
O contador é a facilidade com que cada um vomita.
Na primeira hora que se segue ao terceiro balde, o gato brinca, salta e arranha até, por vezes.
Mas na segunda hora, a vodka traiçoeira começa a fazer das suas.
Começamos a nossa sobreposição.
Sente-se o álcool a bater e os refluxos surgem.
Nas 2 horas seguintes, há 50% de hipóteses de essa ser a maior noite da vossa vida ou a noite em que vomitaram como nunca e em que, mesmo não sendo crentes, rezaram para que vos safassem daquela.
No decurso dessas 2 horas, há 50% de hipóteses de passar de herói daquela noite a gajo triste daquela noite.
50% de hipóteses de no dia seguinte se ter uma ressaca fixe ou uma ressaca de arrependimento.
E nessas duas horas somos incapazes de afirmar se estamos no ponto máximo da bebedeira fixe ou no ponto em que a bebedeira vai fazer virar o barco.
Nessas duas horas estamos inconscientemente nesse tormento de incerteza que só se exprime fisicamente.
Mas até o martelo quebrar o frasco do veneno, na sua tentativa de vos humilhar junto ao rio, uma coisa é certa: somos uns gatos felizes.
Miau para todos
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2 comentários:
LOOOL brilhante! e é fascinante descobrir a utilidade científica por detrás de um balde de vodka
auto-plágio!!!!!
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